As folhas-volantes na América Latina: uma análise do fenômeno comunicacional que antecedeu o jornalismo periódico

The news pamphlets in Latin America: an analysis of the communicational phenomenon that preceded periodical journalism

Autores

Comerlato, Eduardo
https://orcid.org/0000-0002-5337-1281
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

Hohlfeldt, Antonio
https://orcid.org/0000-0001-5284-8730
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

Datos del artículo

Año | Year: 2023

Volumen | Volume: 11

Número | Issue: 2

DOI: http://dx.doi.org/10.17502/mrcs.v11i2.618

Recibido | Received: 9-11-2022

Aceptado | Accepted: 26-1-2023

Primera página | First page: 1

Última página | Last page: 14

Resumen

O presente trabalho apresenta uma contextualização das primeiras publicações de caráter noticioso que foram impressas na América Latina durante os séculos XVI e XVII. Conhecidas como folhas-volantes, estes panfletos eram produzidos de maneira ocasional e narravam acontecimentos importantes para as comunidades locais. Pensando em identificar as suas principais características, foi realizado uma fundamentação teórica acerca dos modelos noticiosos encontrados nos folhetos avulsos, um formato que teve a sua origem na Europa do século XV. Em seguida, através de uma análise empírica qualitativa, buscou-se comparar os detalhes das publicações feitas nas colônias espanholas, identificando como o modelo das folhas-volantes foi incorporado na América Latina e como ele possuía particularidades em relação às reportagens do continente europeu, como o interesse em narrar os eventos locais. Desse modo, foi possível obter um melhor compreendimento do que é considerado o primeiro gênero do jornalismo latino-americano, conectando, especialmente, as regiões que hoje conhecemos como México, Peru e Guatemala, através do conceito das folhas-volantes.

Palabras clave: América Latina, comunicação social, folhas-volantes, gêneros jornalísticos, história do jornalismo,

Abstract

This work presents a contextualization of the first news that were printed in Latin America during the 16th and 17th centuries. Commonly known as news pamphlets, these materials were produced occasionally and narrated important events for the local communities. Thinking about identifying its main characteristics, a theoretical foundation was carried out about the news models found in such leaflets, a format that had its origin in Europe, during the 15th century. Then, through a qualitative empirical analysis, we ought to compare the details of the publications made in the Spanish colonies, identifying how the model was incorporated in Latin America with certain distinctions in relation to the reports of the European continent, mainly in the interest to narrate local events. In this way, it was possible to obtain a better understanding of what is considered the first genre of Latin American journalism, connecting, especially, the regions that we know today as Mexico, Peru and Guatemala, through the concept of the news pamphlets.

Key words: Latin America, social communication, news pamphlets, journalism genres, history of journalism,

Cómo citar este artículo

Comerlato, E. e Hohlfeldt, A. (2023). As folhas-volantes na América Latina: uma análise do fenômeno comunicacional que antecedeu o jornalismo periódico. methaodos.revista de ciencias sociales, 11(2), m231102a04. http://dx.doi.org/10.17502/mrcs.v11i2.618

Contenido del artículo

1. Introdução

Antes do jornalismo periódico tomar forma na América Latina com o surgimento das primeiras gazetas, como a Gaceta de México (1722), a Gaceta de Guatemala (1729) e a Gaceta de Lima (1743), a região já experienciava práticas noticiosas em seus territórios. Isso ocorreu pois, em certos Vice-reinos hispânicos, havia a circulação das chamadas folhas-volantes (hojas volantes ou pliegos sueltos, em espanhol). Elas consistiam em relatos ocasionais que eram impressos e difundidos através de papéis avulsos com o intuito de narrar determinados acontecimentos. Nos temas encontrados ao longo dos séculos XVI e XVII, já era possível notar uma certa proximidade com os valores-notícia que viriam a se sedimentar no periodismo da Ilustração, uma vez que tais publicações tratavam de novidades como batalhas, catástrofes naturais, celebrações, festas religiosas, assuntos políticos e outros “fatos extraordinários capazes de interromper a monotonia da vida cotidiana” (Weill, 1962, p. 9)Ref38.

Com essa perspectiva, o presente trabalho propõe uma contextualização dos modelos noticiosos encontrados nas folhas-volantes latino-americanas, estudando as características de seus formatos discursivos. Trata-se de uma pesquisa interdisciplinar que é, antes de tudo, de caráter comunicacional, mas que se beneficia de um viés histórico para observar as primeiras impressões noticiosas na América Latina colonial. Diante disso, não queremos delinear uma historiografia exata dos acontecimentos violentos que marcaram a faixa temporal da colonização ibérica, mas sim visualizar como o formato das notícias avulsas, enquanto um fenômeno comunicacional próprio da Idade Moderna, foi implementado em determinados territórios, tornando-se, assim, referenciais para a história do jornalismo latino-americano.

Sabemos, efetivamente, que cada região de nosso imenso continente desenvolveu as suas práticas discursivas com singularidades, de acordo com a pluralidade de seus povos e de suas respectivas representações culturais. Afinal, de um modo geral, a América Latina não é uma área homogênea. Entretanto, ao longo desta pesquisa, que integra um âmbito mais amplo de investigações acerca do desenvolvimento das mídias jornalísticas ibero-americanas1, notou-se a possibilidade de identificar padrões em diferentes territórios através do recorte dos gêneros noticiosos, como é o caso das folhas-volantes, durante o período colonial.

Para tanto, realizaremos primeiro uma fundamentação teórica sobre as origens das notícias ocasionais na cronologia humana, direcionando os nossos olhares para as características encontradas nas impressões europeias dos primórdios da Idade Moderna. Nesse sentido, recorremos a autores como Sousa (2007Ref35, 2008Ref34), Espejo (2008Ref12, 2013Ref13), Tengarrinha (2013)Ref36, Ettinghausen (2012)Ref15 e Chartier (1994Ref9, 2011Ref8), que estudaram o já conhecido modelo europeu. Em seguida, através do trabalho de Godoy (2016)Ref17, Prado e Pellegrino (2022)Ref27, Febvre e Martin (2019)Ref16, Medina (1916Ref24, 1958Ref23) e de outros pesquisadores, passaremos a contextualizar as conjunturas coloniais da América Latina e o modo como os europeus trouxeram as primeiras tecnologias de impressão, possibilitando, assim, a publicação de textos variados, ainda que inicialmente eles fossem, sobretudo, de caráter eclesiástico.

Por fim, em um ensaio analítico com viés qualitativo, exploratório e comparativo, buscaremos identificar, de maneira empírica, as características comuns nas folhas-volantes da América Latina colonial, confrontando as suas similaridades e diferenças com o modelo europeu anteriormente descrito. Isso possibilitará inferências abrangentes sobre o que Godoy (2016, p. 23)Ref17 entende ser o primeiro capítulo do jornalismo latino-americano, marcado pelo interesse das metrópoles ibéricas acerca da estruturação de suas colônias. Um contexto, portanto, que influenciou diretamente nas práticas comunicacionais do período e, por conseguinte, no nascimento dos primeiros exemplares noticiosos da América Latina.

2. Características de um gênero precursor

Para Cimorra (1946, p. 10)Ref10, o formato das folhas-volantes pode ser visto como o “primeiro balbucio do jornalismo”, que se originou a partir do interesse humano em compartilhar sentidos e narrativas através de relatos factuais de acontecimentos. Até os princípios do século XV, isso costumava ser feito em textos produzidos de maneira manuscrita e, por conseguinte, com tiragens pouco numerosas. Então, novas possibilidades surgiram com a invenção e a popularização da prensa de tipos móveis, criada por Johannes Gutenberg nas proximidades de 1430:

A invenção da imprensa foi um pilar transcendental na história do jornalismo no mundo. A partir desse fato, os acontecimentos e os feitos que ocorriam – as notícias – começaram a chegar ao domínio das massas dos povos e se fez mais conclusiva a sua contribuição para o desenvolvimento da sociedade. As transmissões de eventos e ocorrências sociais, políticas e econômicas é um espaço inerente ao jornalismo, cuja essência se descobre todos os dias como o reflexo do desenvolvimento da sociedade humana em todas as suas nuances (Benítez, 2000Ref4, p. 11, tradução nossa)2

Sousa (2008, p. 58-59)Ref34 acredita que os primeiros exemplares das notícias impressas surgiram na década de 1470, em cidades italianas como Veneza, Bolonha e Gênova, onde havia a circulação de textos informativos avulsos relacionados a assuntos como a queda de Constantinopla, os avanços dos turcos otomanos pelo Mediterrâneo e as navegações europeias. Foi questão de tempo para o formato começar a ser reproduzido em outros territórios do Velho Continente, aparecendo com nomes distintos, de acordo com a região. Entre eles, temos avvisi, na Itália; newsletters e news pamphlets, na Inglaterra; occasionnels e canards na França; e Neue Zeitungen, na Alemanha. A mesma incorporação também ocorreu na Península Ibérica: enquanto na Espanha nota-se a popularização da impressão das relaciones de sucesos (relações de acontecimentos) na transição entre os séculos XV e XVI, em Portugal, houve, a partir de 1550, a aparição de panfletos noticiosos que também eram chamados de relações, justamente pelo fato de que circulavam para relatar acontecimentos. Entre os temas mais presentes nos países ibéricos, havia um evidente destaque para as narrativas além-mar sobre o movimentado período das Grandes Navegações.

Considerado a “principal novidade trazida pelo Renascimento ao jornalismo” (Sousa, 2007, p. 41-42)Ref35, esse formato noticioso precursor ganhou uma designação genérica de folhas-volantes, uma vez que os panfletos circulavam de maneira avulsa e tinham uma produção ocasional (ou seja, sem periodicidade), com impressões usualmente realizadas na dimensão in-quarto, de tamanho aproximado de 13,5 x 19 cm. Esse formato de impressão, por sinal, foi incorporado, durante o Renascimento, pelo que Chartier (2011, p. 338)Ref8 chama de mercado popular do impresso, que estava interessado em comercializar, de forma numerosa, romances, peças teatrais e estas relações de acontecimentos. Segundo o autor, as pequenas brochuras avulsas viriam a revolucionar a prática comercial enquanto uma nova estratégia editorial, que tinha o intuito de realizar produções consideravelmente mais simples e baratas. Assim, o formato de 4º foi escolhido pelos livreiros pois, com a sua funcionalidade e praticidade, “alimentava o comércio dos vendedores ambulantes, e colocava ao alcance de todos, até mesmo dos menos afortunados, um repertório de textos suscetíveis de usos múltiplos, para acompanhar o trabalho ou a festa, para aprender a ler ou para passar o tempo” (Chartier, 2011, p. 338)Ref8.

Em termos discursivos, nota-se dois formatos que se popularizaram diante da acepção geral de folhas-volantes. O primeiro deles consistia em panfletos noticiosos que circulavam para narrar apenas um acontecimento por impressão, exibindo narrativas extremamente detalhadas que tratavam de apresentar todas as possíveis causas e consequências de cada evento em questão, ao longo de um número de páginas que podia variar de 4 até mais de uma centena. No título, comumente carregavam o termo relação ou relación, seguido de palavras que resumiam o acontecimento abordado. Nesse sentido, um exemplo bastante famoso em língua portuguesa é a Relação da Muito Notável Perda do Galeão Grande (...), impressa em Lisboa, na década de 1550, para narrar o naufrágio de uma conhecida embarcação lusitana.

Enquanto isso, o outro formato discursivo comum nas folhas-volantes era caracterizado por sua essência pluritemática, oferecendo, em cada impressão, uma compilação de notícias curtas e que podiam ser provenientes de diferentes áreas geográficas. Essa espécie de subgênero ficou conhecida como avisos ou relación de avisos, justamente por apresentar tais termos em seus títulos. Ao contrário das relaciones de sucesos, que eram extensos fios narrativos e interpretativos, estes eram relatos puros e breves, geralmente com apenas um parágrafo destinado para cada notícia, o que então permitia juntar múltiplos acontecimentos em uma só publicação, que geralmente não ultrapassava oito páginas. Com essas características, esses materiais eram mais similares aos jornais dos dias atuais, embora sem apresentar qualquer tipo de periodicidade. Como exemplo, temos os Avisos de Italia, Flandes, Roma, Portugal y otras partes, desde 28 de julio hasta 3 de agosto deste año de [1]625, impressão feita, no ano de 1625, em Sevilha. Essa publicação pluritemática aborda diversos acontecimentos locais e internacionais, como a visita do rei Felipe IV a um colégio da Companhia de Jesus, em Madrid, durante a festa de San Ignácio; a inauguração de uma igreja católica em Londres; e a chegada de caravelas com cargas de açúcar vindas do Brasil (Ettinghausen, 2012, p. 67)Ref15. Todos os eventos ocorridos entre 28 de julho e 3 de agosto de 1625, como consta no título dos Avisos.

Independentemente das capacidades mono ou pluritemáticas, hoje sabemos que as folhas-volantes eram produzidas de maneira amadora por eruditos, editores e tipógrafos, que tratavam de assuntos considerados interessantes para a civilização da época, entre eles batalhas, celebrações religiosas, temas políticos, cataclismas e afins. Assim, essa espécie de jornalismo ganharia traços baseados na “actividade de contar histórias sobre a vida quotidiana” (Sousa, 2007, p. 42)Ref35, com textos que eram, em parte, úteis para o desenvolvimento da sociedade, mas que muitas vezes também eram destinados a simplesmente satisfazer a curiosidade humana.

Em termos de vendas, as notícias avulsas costumavam ser comercializadas de maneira numerosa em feiras urbanas, oficinas tipográficas e bancas posicionadas em locais concorridos das cidades europeias. Ao tratar dessas características comerciais, Tengarrinha (2013, p. 41)Ref36 identifica, também, um claro indício de que os editores e os tipógrafos buscavam lucrar ao máximo com a venda das notícias avulsas, graças ao fato de que as impressões eram realizadas em um papel grosseiro de baixa qualidade, possibilitando maiores tiragens e um menor custo de produção.

Para além do comércio, se quisermos reconstruir os modos em que as leituras ocorriam na época, podemos recorrer aos autores da história do livro e da leitura, entre eles Chartier (1994Ref9, 2011Ref8) e Saenger (2011)Ref31. Hoje, sabe-se que o consumo textual ocorria de diversas maneiras durante boa parte da Idade Moderna. Uma das formas mais comuns consistia no que Chartier (1994)Ref9 identifica como leituras compartilhadas e públicas, com os panfletos lidos em voz alta, por pessoas que às vezes até exigiam um pagamento, ou circulando de mão em mão em espaços públicos. Mesmo com a prevalência dessa característica típica de uma cultura predominantemente oral, é preciso ressaltar que a prática da leitura silenciosa também ocorria na Idade Moderna, como destaca Saenger (2011)Ref31, mostrando-se comum nos monastérios (entre os séculos VII e XI) e no mundo escolástico e universitário da Europa medieval (entre os séculos XI e XIII). Porém, o ato de ler em silêncio e de forma individual ainda era uma prática que não havia sido incorporada completamente por aquela sociedade, pois, diante do alto número de analfabetos e de uma circulação de impressos ainda tímida, a leitura oral e compartilhada era considerada uma alternativa mais prática e acessível. Sendo assim, naquela época, o deciframento dos textos costumava ser considerado uma ocasião social, com narrativas sendo compartilhadas em praças, ruas, igrejas, parques e outros pontos de encontro, uma conjuntura que também se aplica no caso das folhas-volantes, como entende Sousa (2007, p. 47)Ref35.

Eis que essas características ajudam a evidenciar como o formato das notícias ocasionais se popularizou na Europa ocidental da Idade Moderna, incorporando-se ao cotidiano de determinadas classes sociais que se interessavam pelos relatos das novidades:

O bom acolhimento das folhas noticiosas pela burguesia urbana, pelos letrados e académicos e ainda pela pouca população alfabetizada e mesmo pela população analfabeta (os analfabetos pagavam para ouvir o que diziam as publicações noticiosos ocasionais, um fenômeno que, aliás, perdurará pelos séculos seguintes, com as gazetas) fizeram perceber a alguns empresários que as pessoas necessitavam e estavam ávidas de notícias regulares, pelo que essas folhas cedo evoluíram para os primeiros jornais (...) As folhas volantes tiveram, assim, o mérito de preparar o mercado e audiência para o jornalismo industrializado (Sousa, 2007, p. 48)Ref35

Com o passar dos anos, a nascente prática noticiosa desenvolveria outras de suas célebres características, como a periodicidade e a organização laboral, que surgiram com as primeiras gazetas do século XVII, fazendo com que os gêneros ocasionais coexistissem com os periódicos durante parte da Idade Moderna. Do mesmo modo, foi nessa faixa temporal que o formato das folhas-volantes foi incorporado na América Latina, manifestando-se em meio às primeiras impressões do período colonial, que serão abordadas pelo artigo, a partir de agora.

3. As primeiras imprensas da América Latina

Quando Cristóvão Colombo chegou à América em 12 de outubro de 1492, estima-se que o continente possuía, do norte ao sul, 57 milhões e 300 mil habitantes nativos (Prado e Pellegrino, 2022, p. 18)Ref27. Com uma grande variedade de etnias, boa parte desse número habitava a região que hoje conhecemos como América Latina3, que, em termos territoriais, se inicia no Rio Grande, ao norte do México, e se estende até o ponto mais austral da Terra do Fogo, na América do Sul. Durante o período de colonização, esses espaços presenciaram a incorporação de línguas neolatinas, ou seja, derivadas do latim, sendo elas o espanhol, o francês e o português, opondo-se, de forma identitária e cultural, aos povos anglo-saxões do norte do continente, que habitavam os Estados Unidos da América e o Canadá.

Após a chegada de Colombo, a América Latina passou por um violento processo de conquista e colonização empregado pelos ibéricos, o qual contava, inclusive, com o aval do próprio Papa Alexandre VI, que garantiu aos espanhóis as posses das terras tomadas em atividades missionárias (Rinke, 2012, p. 33)Ref28. Depois da criação de pequenos povoados ainda no século XV, um dos modos encontrados pela Coroa de Castela para a administração territorial partiu da constituição de Vice-reinos, demarcações geográficas nas quais um determinado vice-rei era designado para governar e administrar as explorações locais.

O primeiro a surgir foi o da Nova Espanha, que “formou-se sobre as bases do Império Asteca, a partir de 1519, ano de sua conquista por Hernán Cortés (Prado; Pellegrino, 2022, p. 19)Ref27. A sua designação oficial de Vice-reino, entretanto, só ocorreu em 1535, quando Antonio de Mendoza foi nomeado vice-rei. Essa região teve um processo de colonização que se intensificou ainda na metade do século XVI (Rinke, 2021, p. 37)Ref28, sobretudo na antiga capital Tenochtitlán, que foi rebatizada de Cidade do México e concentrou grandes povoados coloniais, permeados por constantes tensões entre europeus e nativo-americanos.

Além da Nova Espanha, outra região colonial de alta relevância durante o século XVI foi o Vice-reino do Peru, que se estruturou a partir da “capital fundada pelo conquistador Francisco Pizarro em 1535, a cidade de Lima”, cujo plano urbanístico parecia-se com uma legítima “extensão das cidades espanholas” (Prado e Pellegrino, 2022, p. 12)Ref27. Ligada à atroz conquista hispânica frente ao Império Inca, a fundação oficial do Vice-reino ocorreu em 1542, e, no ano seguinte, Blasco Núñez de Vela assumiu enquanto primeiro vice-rei (Rinke, 2012, p. 39)Ref28. Também conhecida como a Cidade dos Reis, Lima hospedou uma sede da Real Audiencia e adquiriu poder jurídico na administração colonial espanhola, ficando igualmente reconhecida pelo rígido sistema de arrecadação tributária por parte das autoridades. Assim, a capital prosperou enquanto centro de comércio, ao passo que os vilarejos do interior do Vice-reino, como as minas de Potosí, lucravam com a extração de riquezas naturais.

Ao presente trabalho, essa contextualização sobre os primórdios da colonização na América Latina, mesmo que feita de forma breve, é pertinente pois serão justamente as capitais desses dois Vice-reinos que receberão não só as primeiras universidades, como a Universidade de São Marcos (Lima, 1551) e a Real y Pontificia Universidad de México (Cidade do México, 1553), como também as primeiras prensas tipográficas do continente, que tinham uma finalidade bastante específica em seu advento:

Efetivamente, as oficinas tipográficas da América, todas criadas pela autoridade eclesiástica, têm em sua origem o objetivo estreitamente limitado de fornecer as obras necessárias à evangelização dos índios e também de fornecer à colônia nascente os livros de instrução e, sobretudo, de piedade, indispensáveis (Febvre e Martin, 2019, p. 299)Ref16.

De acordo com Godoy (2016, p. 27)Ref17, a primeira região que recebeu a tecnologia de impressão foi a Cidade do México, no Vice-reino da Nova Espanha, em 1539. Contudo, o processo de instalação remonta ao ano de 1533, quando o bispo do México, Juan de Zumárraga, solicitou ao rei espanhol Carlos V a fundação de uma prensa tipográfica e de uma fábrica que pudesse produzir papel para a região, que até aquele momento possuía uma circulação textual baseada em manuscritos e livros impressos provenientes da Europa. As ambições eclesiásticas de Zumárraga foram atendidas seis anos depois, quando o vice-rei Antonio de Mendoza aprovou que Juan Cromberger, um livreiro de Sevilha, abrisse um empreendimento nas Américas.

Em 1539, o espanhol enviou uma prensa tipográfica e um de seus funcionários, o italiano Juan Pablo, que firmou um contrato com Cromberger e produziu os primeiros materiais impressos do continente na Cidade do México, sobretudo abecedários e obras de instrução cristã aos índios, além de alguns livros de piedade e tratados jurídicos. Certamente, tratava-se de uma “produção modesta, ainda, mas que prova que o novo impressor havia encontrado no local elementos de uma clientela” (Febvre e Martin, 2019, p. 300)Ref16, permitindo, pouco a pouco, o desenvolvimento da imprensa na região que hoje conhecemos como México.

Nas décadas seguintes, a Nova Espanha recebeu outros impressores, entre eles o também sevilhano Antonio de Espinosa, que chegou à região em 1550 para trabalhar com Juan Pablos, mas que abriu sua própria oficina na capital em 1559; e o francês Pedro Ocharte, que se instalou durante o ano de 1563. Diante disso, Febvre e Martin (2019, p. 300)Ref16 argumentam que estes livreiros, ao lado de outros que chegaram durante o período conhecido como o Século de Ouro Espanhol, permitiram que a Cidade do México tivesse, nos séculos XVI e XVII, uma produção editorial “superior à de muitas cidades europeias importantes ­– tanto mais notável que era preciso mandar vir da Europa o papel necessário às impressões”. Para os autores, isso ocorreu porque a cidade já era um centro populacional relevante que, no início de 1600, abrigava 25 mil habitantes, dos quais doze mil eram brancos.

Depois do Vice-reino da Nova Espanha, a próxima região americana que receberia uma prensa de tipos móveis seria o Peru, fato que ocorre em 1584, através do italiano Antonio Ricardo. A história desse impressor na América começa em 1570, com a sua mudança para o México, onde passou a trabalhar com o livreiro Pedro Ocharte. Lá, Ricardo assumiu, em 1577, as produções tipográficas do colégio San Pedro y San Pablo de los Jesuitas, e, em 1579, pode abrir a sua própria oficina tipográfica. O forte vínculo construído com os jesuítas, entretanto, fê-lo mudar de vida, uma vez que ele se mudou para Lima, em 1584, diante do apelo dos integrantes da Companhia de Jesus:

Ele [Antonio Ricardo] havia sido chamado pelos jesuítas que possuíam na cidade [Lima] um importante colégio e que, desde 1576, haviam manifestado o desejo de ver uma tipografia funcionar no local a fim de poder mandar imprimir os livros necessários à evangelização dos índios. Assim, a primeira obra importante que Ricardo imprimiu em Lima foi um catecismo em três línguas. Desde então, a imprensa se desenvolve nessa cidade, que tem dez mil habitantes (incluídos os mestiços) no século XVII, e que possui cinco colégios, um dos quais reservado aos indígenas, e uma universidade, compreendendo oitenta professores; por volta de 1637, três oficinas funcionam aí ao mesmo tempo (Febvre e Martin, 2019, p. 300)Ref16.

Com uma autorização para operar em Lima, Antonio Ricardo imprimiu livros como a Doctrina Christiana y catecismo para instrucción de los Indios (1585) e trabalhou na cidade até 1605, ano de sua morte. Sua oficina tipográfica foi assumida, naquele mesmo ano, por Francisco del Canto, que então seguiu com os trabalhos de impressão. Além dele, também se destacaram os livreiros Pedro de Merchán Calderón, Jerónimo de Contreras e Francisco Gómez Pastrana, que trabalharam na Cidade dos Reis entre as décadas de 1610 e 1630 (Estabridis Cárdenas, 2002, p. 70)Ref14.

Tanto os motivos dos impressores, quanto o caráter dos materiais impressos, evidenciam que a tipografia chegou à América com um viés eclesiástico, tornando possível o desejo da metrópole em propagar o “espírito católico nas colônias espanholas” (Benítez, 2000, p. 23)Ref4, com a publicação de obras necessárias para a bárbara catequização imposta aos povos indígenas. Desde cedo, isso possibilitou a estruturação de “dois grandes centros tipográficos”, segundo Febvre e Martin (2019, p. 301)Ref16, que se instalaram justamente nas duas maiores cidades do império espanhol da América, onde houve um alvorecer de materiais impressos (Godoy, 2016, p. 28)Ref17.

Depois das localidades da Nova Espanha4 e do Peru, a tipografia chegou em outra região específica ainda no século XVII: a Capitania Geral da Guatemala5, em 1660 (Benítez, 2000, p. 23)Ref4. Isso ocorreu através de José de Pineda Ibarra, impressor que nasceu e viveu na Nova Espanha, mas que se mudou para Santiago de los Caballeros de Guatemala a pedido do frei Payo Enríquez de Ribera que, enquanto bispo da Guatemala, contratou os seus serviços tipográficos para a diocese local, onde passaria a realizar a impressão de materiais católicos.

A partir do século XVIII, Benítez (2000, p. 24-25)Ref4 projeta a seguinte ordem de chegada de impressoras aos territórios latino-americanos: na ilha de Cuba, em 1724; na Colômbia, em 1738; no Equador, em 1754; e na Argentina, em 17646. Enquanto isso, o Brasil, única colônia lusitana do continente, só viria a ter sua primeira imprensa com a chegada da família Real, em 1808. A ausência de imprensas no período colonial não se deu, necessariamente, por proibições formais, uma vez que nunca foram encontrados documentos portugueses referentes à suposta proibição tipográfica na colônia.

No entanto, é reconhecido que Portugal não tinha interesse em promover o advento da tipografia por aqui, algo evidenciado através de casos em que oficinas recém-abertas foram fechadas por ordem régia, como aconteceu com António Isidoro da Fonseca, em 1747, no Rio de Janeiro7. Assim, nota-se que Portugal não tinha o interesse em introduzir a arte da tipografia em sua maior colônia, “assim como não queria a instalação de indústrias, a construção de estradas ou a navegação fluvial, nem mesmo o funcionamento de um correio interno durante mais de dois séculos” (Molina, 2019, p. 38)Ref25. Essa característica fez com que o território brasileiro apresentasse um desenvolvimento cultural diverso quando comparado aos primórdios de outras colônias da América Latina, não registrando, portanto, impressões jornalísticas antes de seu primeiro periódico manufaturado localmente, a Gazeta do Rio de Janeiro, de 1808:

O rígido controle de Portugal sobre a vida cultural da colônia impediu que fossem instaladas tipografias, não deu impulso ao ensino, proibiu a instalação de universidades para evitar a competição com Coimbra, cerceou a divulgação de informações sobre o Brasil no exterior e vigiou de perto as importações de livros para impedir a entrada e a difusão de ideias políticas perigosas. (...) As barreiras impostas por Lisboa para o desenvolvimento da economia e, principalmente, para a instrução e a formação da população local, teriam consequências no longo prazo. Como escreveu a historiadora Emília Viotti da Costa, a ignorância e o desinteresse observados no Brasil no fim do período colonial eram fruto da falta de cultura e da ausência de uma tradição de participação política (Molina, 2015, p. 39-40)Ref26.

Para Marques de Melo (2003)Ref21, a ausência de prensas tipográficas no Brasil Colônia também deve ser entendida através de outros fatores sociais, como o baixo nível de urbanização, as fracas atividades culturais e científicas, pouca iniciativa estatal, atividades comerciais e industriais escassas, mercado interno irrelevante, monopólio no comércio externo, analfabetismo, grandes distâncias e práticas de coronelismo, obscurantismo e censura por parte da metrópole. De modo geral, essa conjuntura também se relaciona com o fato de que Portugal teve grandes dificuldades na instalação de um modelo colonial desde cedo, demonstrado pelo fracasso das capitanias hereditárias no século XVI e, posteriormente, pela instabilidade dos governos-gerais, o que fez o Brasil ter um desenvolvimento social e urbano consideravelmente lento em seu período colonial.

Assim, os grandes fluxos de impressão na América Latina durante os séculos XVI e XVII serão localizados particularmente nas regiões da Nova Espanha, Peru e Guatemala. Ainda que a vasta maioria das produções locais fossem de caráter eclesiástico, será graças a tal processo que surgirá o material que interessa à análise do presente artigo: as folhas-volantes produzidas na América Latina. Com suas nuances, a prática foi o primeiro respiro do que hoje conhecemos enquanto jornalismo, embora ainda sem a sua característica de periodicidade e com pouca organização laboral. Isso faz Sousa (2007, p. 41)Ref35 considerar que tal prática ainda não se apresentava como um jornalismo industrial, que iria apenas surgir no século XIX, mas sim enquanto um jornalismo artesanal, próprio dos séculos XVI e XVII.

4. Analisando as notícias dos séculos passados

A partir do que foi tratado sobre os modelos noticiosos encontrados nas folhas-volantes europeias e sobre o contexto latino-americano em seu período colonial, empregaremos uma análise qualitativa de materiais empíricos disponíveis em bibliotecas digitais8 e que foram escolhidos por meio de suas características de relevância histórica, localidade de produção e representatividade temática. Para isso, contaremos com um enfoque interpretativo e comparativo para buscar "elementos que permitam encontrar o que há de específico, de único em um fenômeno, em uma região, e onde se pode encontrar regularidades e padrões" (Del Palacio, 2014, p. 5)Ref11.

Com os olhares voltados ao fenômeno das notícias avulsas e ocasionais, retornaremos ao período colonial da América Latina, incorporando uma proposta teórico-metodológica sinalizada por Godoy (2016)Ref17, que delimita a seguinte periodização para os diferentes momentos da imprensa latino-americana: uma etapa da gênese, que engloba o século XVI até o início da Ilustração (1539 - 1808), tornando-se, portanto, a faixa de nosso interesse; uma etapa voltada especificamente para a Independência das nações (1808 - 1824); e duas etapas que se dedicam ao aparecimento do jornalismo durante a formação das repúblicas liberais (1824 - 1875 e 1875 - 1903). Com essa segmentação temporal, o historiador entende que os pesquisadores se tornarão capazes de aplicar, com maior facilidade, "metodologias qualitativas mais incisivas, que vão além de olhares reduzidos a vicissitudes puramente locais, que facilitam comparações e constatem diferenças" (Godoy, 2016, p. 23)Ref17.

Em nossa análise empírica, há o interesse em investigar, através de comparações, se os conceitos característicos das folhas-volantes encontrados em terras europeias estão, de fato, presentes nas publicações impressas na América Latina. Essa é uma pergunta que surgiu durante a pesquisa bibliográfica, através dos estudos de Benítez (2000, p. 41)Ref4, que argumenta que o jornalismo latino-americano, em seus primeiros passos, deve ser visto enquanto uma prolongação do jornalismo europeu, sobretudo o espanhol. Entende-se, pois, que o autor quer dizer que as práticas culturais europeias foram incorporadas pelos territórios latino-americanos durante o processo de colonização. No entanto, ele não demonstra de maneira prática como isso, de fato, ocorreu. Assim, em nosso estudo, tomaremos nossa base teórica para identificar, objetivamente, o que pode ser extraído dessa afirmação de Benítez (2000)Ref4.

Quanto aos procedimentos analíticos, nosso enfoque pode ser classificado enquanto uma pesquisa comparativa, na medida em que diferentes reportagens latino-americanas serão aproximadas entre si, buscando evidências, regularidades e padrões. Isto é, o ato de comparar poderá trazer generalizações para nos situar em meio ao fenômeno estudado, propondo paralelos através de estudos de casos e permitindo explicações sobre o mundo (Sartori, 1994, p. 31)Ref33.

Em sua trajetória, o viés comparativo, para a compreensão empírica, surgiu nas ciências sociais, com trabalhos interessados em analisar determinados fenômenos e suas características em diferentes sociedades. Entre os autores, destacaram-se, a partir do século XIX, nomes como Tocqueville, Durkheim, Weber, Marx e outros, com estudos sociais de viés político, econômico e linguístico, que buscavam explicar os seus objetos de análise:

A contribuição mais importante da abordagem comparativa reside na confrontação sistemática e refletida entre teoria e realidade empírica, empregando um método que examina vários estudos de caso e gera novo conhecimento. Como Sartori (1994) ressalta, “a comparação e o estudo de casos podem funcionar muito bem reforçando-se mutuamente e complementando-se [...]. Os estudos de caso heurísticos fornecem a base ideal — e talvez a melhor — para conceituar generalizações” (Anciaux et al., 2017, p. 21)Ref1.

Já no final do século XX, Burke (2000, p. 35)Ref6 conceituou a evolução dos estudos comparativos e as suas relações com a teoria social, o que veio a evidenciar dois enfoques que passaram a ser usados desde então: o enfoque comparativo particularizador, conhecido pelo seu interesse em identificar especificamente as diferenças entre os conceitos analisados; e o enfoque comparativo generalizador, que incorpora, sobretudo, o que há de comum dentro dos materiais e assim agrupa o que está sendo estudado por conta de suas similaridades. Esses enfoques, por sua vez, são classificados por Sartori (1994, p. 44)Ref33 como uma escolha metodológica necessária que se impõe ao pesquisador durante a execução da pesquisa comparativa. Em contrapartida, o autor encoraja que os dois procedimentos, individualizador e generalizador, também possam ser correlacionados a posteriori.

Além da sociologia, os estudos comparativos se espalharam para diferentes áreas científicas, dentre elas a comunicação, onde estabeleceu um espaço privilegiado por meio da análise de conteúdo de veículos impressos, como os jornais. De acordo com Marques de Melo (1972, p. 18)Ref22, um dos autores responsáveis por incorporar a pesquisa comparativa aos estudos jornalísticos foi Jacques Kayser (1961)Ref19, que, a partir de seu desejo de criar uma ciência da imprensa, produziu análises críticas de uma disciplina que ficaria conhecida como Jornalismo Comparado.

Antes de tudo, o pesquisador francês deixa claro que, por se tratar de uma metodologia versátil e flexível, o método comparativo não dispõe de regras ou passos previamente estruturados; ou seja, não há uma fórmula apriori de aplicação exata para os estudos empíricos, algo que também é compartilhado por Sartori (1994)Ref33, no campo da ciência política. De qualquer modo, o legado de Kayser (1961, p. 40)Ref19 será incorporado ao presente trabalho a partir de um de seus conceitos fundamentais, que é a proposta de uma análise que seja capaz de englobar tanto a morfologia das notícias (ou seja, as dimensões de impressão, a tipografia, o formato, a distribuição textual, o número de colunas e afins), quanto a análise dos textos em si. Assim, ele expressa uma clara preocupação com a forma e o conteúdo dos textos noticiosos, contextualizando, através de comparações, o modo como os impressos chegam aos leitores.

A nossa análise, portanto, implicará na leitura das notícias, que serão dissecadas para se compreender o fenômeno comunicacional como um todo. Assim, não realizaremos comparações em busca de pequenas diferenças, mas sim, concordâncias que nos permitam compreender o contexto das folhas-volantes latino-americanas. De maneira geral, isso permitirá uma visão conjunta do contexto comunicacional no período determinado, uma perspectiva utilizada por autores como Barbosa e Gutiérrez (2022)Ref3, Hohlfeldt (2020)Ref18 e Godoy (2016)Ref17, quando se trata de pesquisa sobre a história das mídias jornalísticas na América Latina.

Sendo assim, iniciaremos a investigação a partir da que é considerada a primeira reportagem de nosso continente: a Relación del espantable terremoto que ha acontecido en las Indias (...). Segundo Ruiz Castañeda (1985)Ref30, a notícia foi produzida pelo escrivão Juan Rodríguez, que encomendou a impressão no México, na oficina Casa de Juan Cromberger, onde trabalhava Juan Pablos. Falando sobre um temor ocorrido na Guatemala, a narrativa teve a sua tiragem disposta em quatro folhas, nas dimensões in-quarto, com texto em uma coluna e tipografia gótica. Em seu conteúdo, a obra se inicia com uma estratégia narrativa que faz lembrar da técnica do lead do jornalismo moderno:

Sábado, dez de setembro de 1541, às duas horas da noite, tendo chovido quinta-feira, e sexta-feira não muito, o dito sábado se apresentou como foi, e às duas horas da noite, houve uma grande tormenta de água que saiu do alto vulcão que está acima de Guatemala e foi tão súbita que não houve como remediar as mortes e os danos que ocorreram; foi tanto estrago vindo da terra, que trouxe através da água, pedras e árvores, que os que viram a cena ficaram espantados (Rodríguez, 1985Ref29, p. 20, tradução nossa)9.

A partir de então, o desenrolar da narrativa conta como a chuva transformou-se em um tremor que devastou os vilarejos de Santiago de los Caballeros de Guatemala, somando centenas de mortos e de lares destruídos, que ficaram “sem herdeiros, morrendo pais e filhos e mulheres, sem sobrar nenhuma pessoa” (Rodríguez, 1985, p. 21)Ref29. O fato foi tão significativo para a comunidade hispânica que, no ano seguinte, em 1542, a notícia foi reimpressa em Toledo, na Espanha (Cabezas, 2020, p. 15)Ref7. Se pensarmos em seu contexto de produção, podemos notar que esta relação apresenta diversos valores-notícia da contemporaneidade, como os conceitos de proximidade, atualidade e relevância, o que, por si só, já justifica o seu interesse de impressão e difusão em dois continentes.

Com características similares, a Relación de lo que hizo don Beltrán de Castro y de la Cueva en la entrada de Richarte Aquines inglés por el estrecho de Magallanes y mar del sur é um folheto avulso de 1594 que figura enquanto a primeira reportagem da região de Lima, no Peru, e, consequentemente, da América do Sul (Michilot, 1997, p. 27)Ref25. Impresso na oficina de Antonio Ricardo, o relato foi escrito por Pedro Balaguer de Salcedo, então Chefe dos Correios do Peru, e trata de uma batalha travada entre Beltrán de Castro y de la Cueva, navegador militar da Espanha, e o famoso corsário inglês Richard Hawkins, também conhecido, em territórios ibéricos, como Richarte Aquines ou Juan de Aquines, em função do nome de seu pai. Logo na introdução da publicação, ficamos sabendo que, após o navegador britânico costear o Brasil, atravessar o Estreito de Magalhães e fazer reféns na costa do Chile, em Valparaíso, os governantes espanhóis decidiram iniciar uma tarefa militar para capturá-lo, uma vez que o corsário era conhecido por cometer atrocidades. Isso causou momentos de tensão nas agitadas águas do Oceano Pacífico, onde as embarcações travaram emocionantes duelos em alto-mar:

No dia seguinte, que era sexta-feira, 1º de julho, depois do amanhecer, o nosso exército partiu, chegando ao navio inimigo com grande ânimo e para a alegria de todos, que sem mostrar um ponto de fraqueza, antes de ter aparado suas velas, e reparado os danos que sofridos no dia anterior, da melhor maneira que pôde, voltou para nossos homens com tanto vigor e coragem, que tocando sua corneta os chamou para abalroar, eles começaram a canhonear novamente, e ele respondeu de acordo, causando danos um ao outro, embora o inimigo tenha sofrido muito mais, porque muitas pessoas foram mortas e feridas, conforme se soube mais tarde (Balaguer de Salcedo, 1594Ref2, p. 30, tradução nossa)10.

Este embate se encerrou com o sucesso dos espanhóis na captura do corsário, que seria preso, julgado e enviado de volta à Europa. A euforia espanhola em função da heroica captura foi tão grande que as autoridades fizeram questão de que o relato fosse escrito por Salcedo e impresso por Ricardo o mais rápido possível (Medina, 1916)Ref24. Assim, a notícia seria primeiramente publicada no formato in-folio de quarto, para depois ganhar uma nova edição no tamanho de oitavo, também com o texto em uma coluna.

Para além dos cataclismas e dos combates, outro tema recorrente nas folhas-volantes era o relato de celebrações e festas, principalmente quando se trata de cerimônias religiosas. Um exemplo é a Relación de las fiestas que en la ciudad de Lima se hicieron por la beatificación del bienaventurado Padre Ignacio de Loyola, publicação que foi provavelmente escrita por Bravo de Saravia y Sotomayor e impressa por Francisco del Canto, no Peru, em 1610. Em seu conteúdo, o panfleto narra uma festa promovida na Cidade dos Reis para celebrar a beatificação de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus. Com uma extensão de oito páginas e dimensões de 4º, o folheto circulou para apresentar os preparativos da festa e os detalhes de sua realização, que contou com a presença de figuras notáveis para a comunidade, como o Vice-Rei Juan de Mendoza y Luna, além de outros membros de alto escalão da Igreja Católica:

Isso foi arranjado na sexta-feira, 30 de julho, às duas da tarde, e assim que o relógio bateu, os sinos começaram a tocar na Companhia, e muitos outros instrumentos de charamelas, cornetas, etc. Toda a cidade começou a assistir às Vésperas, especialmente os religiosos sérios de todas as ordens, com a leitura do coro, bem capaz, sem mudar o rumo. Depois veio o Arcebispo, vestido de púrpura e acompanhado de todo o Conselho Eclesiástico, e a Clerecía (Bravo de Saravia y Sotomayor, 1610Ref5, p. 3, tradução nossa)11.

Nota-se, assim, que as cerimônias religiosas eram eventos importantes para a população hispânica, que cultivava os valores do catolicismo com grande fervor na Idade Moderna. Essa característica também pode ser encontrada nas folhas-volantes de outra região da América, na qual as relaciones de fiestas indicaram os primórdios do jornalismo local: a Guatemala, onde 43 folhas-volantes sobre o assunto foram publicadas entre 1663 e 1814, como nos mostra o estudo de Mora (2016)Ref32. Entre as impressões mais famosas, destacam-se a primeva Festivo obsequio al misterio de la concepción de la reina de los Ángeles, la siempre Virgen María, celebrado en su convento de la Concepción de la Ciudad Vieja (...) de 1663; a Relación descriptiva de la festiva pompa en las aclamaciones, con que la nobilísima ciudad de Santiago de Guatemala (...), de 1666; e o Diario célebre con que la muy augusta y religiosísima Provincia de la Presentación de Guatemala (...) celebró, con regocijados júbilos, y filiales afectos, el culto inmemorial del siempre ínclito protomártir de la redentora familia, chanciller mayor de Castilla, obispo de Jaén y Baeza, gobernador de Toledo (...), de 1673. Apesar destas folhas-volantes não terem recebido digitalizações, o que nos impede momentaneamente de analisá-las com maior profundidade, sabemos, através de estudos como o de Mora (2016)Ref32, que elas seguiam padrões similares aos encontrados nas outras regiões, como o formato in-quarto e o caráter monotemático.

Através dos exemplos destacados até agora, nota-se que as folhas-volantes produzidas na América Latina estampavam majoritariamente acontecimentos e assuntos ocorridos em seus próprios territórios, o que as liga diretamente ao conceito de proximidade, algo inerente ao jornalismo desde os seus primórdios. No entanto, isso não significa que não houvesse a impressão de reportagens sobre acontecimentos europeus, muito pelo contrário. A Vitoria felicissima de España contra quarenta navios de enemigos que andaban en la playa y Costa de la ciudad de Valencia a quatro de Abril é uma folha-volante que, embora não tenha o termo relación em seu título, é uma legítima relação de acontecimento, sendo impressa por Francisco del Canto, em Lima, no ano de 1618. Trata-se, na verdade, da reimpressão de uma relación que havia sido originalmente publicada por Serrano de Vargas, em Sevilha, naquele mesmo ano.

Em sua morfologia, há algumas diferenças entre as duas versões: enquanto a europeia apresenta uma ilustração na primeira página, com o nome do autor Francisco Lopez e do editor Serrano de Vargas, a publicação americana não tem um frontispício, apenas duas linhas finas, no topo da primeira página, que indicam tratar-se de uma notícia originalmente publicada na Europa, mas que o livreiro Francisco del Canto adquiriu uma autorização para imprimi-la novamente em Lima. Além das mesmas dimensões in-quarto e da extensão de quatro páginas, ambas as edições apresentam o mesmo conteúdo textual, que se inicia com um parágrafo introdutório que deixa claro que a narrativa pretende tratar “sobre como quatro galés de Napoli, que haviam vindo da Infantaria até Valência, lutaram, nas proximidades da cidade, com sete navios, e capturaram mais de quatro mil pessoas” (Lopez, 1618, p. 1)Ref20. Em seguida, ela segue contando que as autoridades espanholas receberam a informação de que mais de quarenta navios de mouros — considerados “inimigos” dos espanhóis na época — estavam rodando a costa de Valência.

Com medo de possíveis ataques, foi solicitado a ajuda de diferentes tropas, como a comandada por Don Octávio de Aragón, proveniente de Napoli, que se tornará o protagonista da notícia:

Desde que os galés saíram para o reconhecimento, fizera Dom Octávio o necessário para prevenir a luta, estando todos os soldados e a artilharia bem-preparados; e vendo a resposta, notando que eram navios inimigos, investiu e atacou dois navios que estavam no fundo. Não por isso os inimigos perderam o vigor, antes lutaram com grande ânimo, dando resposta aos nossos, que com um espírito invencível batalharam, com todos se destacando (Lopez, 1618Ref20, p. 13, tradução nossa)12

Desse modo, a narrativa nos conta os detalhes sobre como as tropas, de maneira epopeica, conseguiram derrotar os navios e aprisionar os que eram considerados “inimigos”. Inclusive, em certo ponto, é revelado que Octávio de Aragón encontra, nos destroços rivais, bispos e frades que supostamente haviam sido capturados pelos mouros, trazendo-os de volta para as terras espanholas. A façanha de Aragón se torna, assim, ainda mais heroica, até mesmo quando lida por alguém vivendo no outro lado do Oceano Atlântico.

Enquanto isso, o subgênero dos avisos também tem exemplos notáveis nas colônias hispânicas, como a Relación de avisos de todo lo que ha sucedido en Roma, Napoles, Venecia, Genova, Sicilia, Francia, Alemania, Inglaterra, y Malta. Este folheto avulso é uma impressão que foi feita, no ano de 1618, em Sevilha, por Juan Serrano de Vargas, e em Lima, por Francisco del Canto, tratando de narrar os principais acontecimentos que ocorreram durante os primeiros meses daquele ano, nas cidades de seu título. Em suas quatro folhas, com dimensões do formato de 4º, a notícia apresenta relatos mais breves sobre diferentes tipos de acontecimentos, o que lhe diferencia prontamente das relaciones. Em sua primeira página, por exemplo, a impressão aborda a visita do Duque de Osuna a vilarejos italianos, a chegada de navios comerciais no porto de Marseille e, ainda, o fato de que “em três de fevereiro, chegou a notícia de Genova de que ali partiram para Barcelona quatro caravelas suspeitas, e que por se haver achado um corpo morto em um poço, estavam fazendo grandes diligências para descobrir os infratores” (Vargas, 1618, p. 1)Ref37. Geralmente destinando apenas um parágrafo para cada fato, ela se torna uma publicação mais parecida com as gacetas, gênero que ainda não havia se manifestado em terras ibero-americanas.

Com isso, podemos notar que as folhas-volantes foram responsáveis por inaugurar o mercado das notícias do continente americano, destacando-se principalmente nas regiões que receberam por primeiro a tecnologia dos tipos móveis, ainda que existam outros casos esporádicos; na Colômbia, por exemplo, temos a conhecida Aviso del terremoto, considerada a primeira reportagem do país, que circulou em 1785 para narrar os detalhes de uma catástrofe local. A despeito disso, fica claro que quanto mais nos aproximamos dos séculos XVII e XVIII, menos espaço havia para a publicação de relações e avisos, que passariam a competir com novos gêneros informativos, como as gazetas, os mercúrios e outros periódicos. Desde já, essa característica nos permite a inferência de que as notícias ocasionais e avulsas, de fato, tiveram o seu auge durante a Idade Moderna, com impressões que foram cruciais para o desenvolvimento das práticas jornalísticas no mundo ocidental.

5. Conclusões sobre um fenômeno comunicacional que marcou época

Seja com os discursos detalhados das relaciones de sucesos ou com os breves avisos, as folhas-volantes fizeram parte dos capítulos iniciais do jornalismo do mundo ocidental. Quanto ao surgimento do formato na América Latina, podemos destacar os seguintes aspectos a partir das comparações realizadas: as reportagens avulsas latino-americanas nasceram, de fato, com características morfológicas e discursivas bastante similares às europeias, podendo ser consideradas como uma prolongação do jornalismo europeu, como argumenta Benítez (2001, p. 23)Ref4. No entanto, isso ocorreu particularmente em termos de gêneros e formatos, uma vez que os assuntos incorporados, em sua vasta maioria, abordavam os acontecimentos da própria América, manifestando outra evidência jornalística diante do conceito de proximidade.

Assim como os abundantes materiais eclesiásticos, muitas das relações latino-americanas também se voltavam para eventos católicos, como festas de beatificação, missas e outras cerimônias religiosas. Isso permite uma aproximação com o que vimos sobre os propósitos da introdução tipográfica na América; isto é, justamente o interesse, por parte dos ibéricos, de promover o espírito católico em suas colônias, o que também se manifestava constantemente nas notícias. Essa condição pode ser considerada uma particularidade das reportagens latino-americanas, que, obviamente, não davam conta de cobrir todo e qualquer tipo de acontecimento, principalmente diante da censura imposta pela metrópole e da frequente falta de recursos. No entanto, apesar das dificuldades, há um legado que não pode ser negado: as folhas-volantes colaboraram efetivamente na instalação das práticas noticiosas no continente.

Enquanto o Brasil contou com diferenças significativas na tardia implementação de suas próprias oficinas tipográficas, acreditamos que as nossas conclusões possibilitam uma visão conjunta sobre como a América espanhola teve similaridades na introdução das notícias avulsas durante os séculos XVI e XVII, nos permitindo conectar as regiões que hoje conhecemos como México, Peru e Guatemala, através do fenômeno das folhas-volantes. Não à toa, serão justamente essas localidades que, ao longo do século XVIII, apresentarão os primeiros veículos periódicos da América Latina, manifestando esforços informativos que permitiram a consolidação do jornalismo local, prática que viria a desempenhar um papel extremamente importante no desenvolvimento social, cultural e democrático do continente.

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2) Balaguer de Salcedo, P. (1594). Relación de lo que hizo don Beltrán de Castro y de la Cueva en la entrada de Iuan de Aquines ingles por el estrecho de Magallanes y mar del sur. Antonio Ricardo.

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Notas

1) Os autores integram duas redes de investigação relacionadas ao tema: o grupo de pesquisa “Possibilidades de uma história conjunta do jornalismo na América Latina”, que busca estudar o aparecimento das primeiras gazetas de nosso continente; e a “Red Latinoamericana de Historia de los Medios” (RELAHM), com pesquisadores de oito países da América Latina.

2) La invención de la imprenta fue un pilar trascendental en la historia del periodismo en el mundo. A partir de ese hito, los acontecimientos y los hechos que ocurrían — las noticias — comenzaron a llegar al dominio de las masas de los pueblos y se hizo más concluyente su contribución al desarrollo de la sociedad. La trasmisión de sucesos y ocurrencias sociales, políticas y económicas es un espacio inherente al periodismo, cuya esencia se descubre todos los días como reflejo del desarrollo de la sociedad humana en todos sus matices (Benítez, 2000, p. 11)

3) Mais do que uma referência territorial, a expressão América Latina tem cargas ideológicas. Segundo Prado e Pellegrino (2022, p. 8), o termo teria surgido no século XIX de duas maneiras: a primeira remete ao francês Michael Chevalier, que, em obra de 1836, separou o Novo Mundo entre as localidades habitadas pelos “latinos católicos” e os “anglo-saxões protestantes”. Nesse sentido, há como “pressuposto a ideia de que os habitantes que viviam ao sul do Rio Grande apenas aceitaram de maneira acrítica e passiva o termo engendrado no exterior” (Prado e Pellegrino, 2022, p. 9). Enquanto isso, a outra origem da expressão teria surgido no poema “As duas Américas”, do colombiano José María Torres Caicedo, em 1857. Para Prado e Pellegrino (2022, p. 9), a finalidade desta obra “era a da integração entre os vários países latino-americanos, buscando seu fortalecimento, como precaução para as possíveis futuras interferências norte-americanas na região”. Nessa perspectiva, a denominação não teria sido imposta de forma passiva, mas sim adotada conscientemente pelos latino-americanos.

4) Segundo Medina (1958), em 1640, outra cidade da Nova Espanha recebeu uma impressora. Trata-se de Puebla de los Ángeles, que teve Francisco Robledo como primeiro tipógrafo. Ele foi convidado pelo bispo de Tlaxcala, Juan de Palafox, tornando-se, posteriormente, impressor oficial do Secreto del Santo Oficio. Nesse sentido, há uma tese produzida por Escobedo Romero (2011) que detalha a imprensa que funcionou entre 1640 e 1815. Ver Escobedo Romero, J. (2011), La imprenta en Puebla de los Ángeles: 1640-1815. Tesis doctoral, Universidad de Alcalá. https://ebuah.uah.es/dspace/handle/10017/16561.

5) As Capitanias Gerais se diferenciavam dos Vice-reinos ao serem “subdivisões administrativas de caráter militar circunscritas a regiões com importância estratégia” (Prado e Pellegrino, 2022, p, 23). Desse modo, sob o comando de capitães, tinham importância militar e estratégica, ao contrário dos Vice-reinos, que se voltavam para a exploração social e econômica. Além da região referida, também havia a Capitania Geral da Venezuela, Capitania Geral de Cuba, Capitania Geral do Chile e Capitania Geral de Yucatán. Quanto aos Vice-reinos, para além da Nova Espanha e Peru, estruturaram-se o Vice-Reino da Nova Granada e o Vice-reino do Rio da Prata.

6) Além destas, considera-se que, por volta de 1700, houve o funcionamento de prensas tipográficas nas missões jesuíticas da América do Sul. Por se tratar de materiais móveis, que às vezes eram fabricados localmente, esses maquinários podem ter circulado e operado em diferentes países, entre eles Argentina, Paraguai e até o Brasil, embora essa informação seja incerta. Os trabalhos de Marques de Melo (2003) e Molina (2015) contextualizam tais impressoras, que eram usadas exclusivamente para a impressão de doutrinas na catequização dos indígenas.

7) Segundo Molina (2015), Isidoro teria vindo ao Rio de Janeiro em 1747 e, nesse ano, imprimiu cinco obras, sendo uma delas uma folha-volante intitulada Relação da Entrada que fez o Excelentíssimo, e Reverendíssimo Senhor D. Fr. Antonio do Desterro Malheyro, Bispo do Rio de Janeiro (...). Este folheto avulso tinha o intuito de relatar os festejos feitos no Rio de Janeiro para a chegada de seu bispo, apresentando um manifesto caráter noticioso. Entretanto, há certos entraves que nos impedem de ligá-la ao início do jornalismo brasileiro, como o fato de que, ainda em 1747, a corte de Portugal mandou fechar a oficina de Isidoro, recolhendo as suas impressões e obrigando o seu retorno à metrópole. Assim, a circulação desta Relação é desconhecida.

8) Entre os portais utilizados, temos a Biblioteca Nacional del Perú (https://bibliotecadigital.bnp.gob.pe/), Proyecto Estudos Indianos (https://estudiosindianos.org/), Biblioteca Digital de Relaciones de Sucesos (https://www.bidiso.es/CBDRS/), Library of Congress (https://www.loc.gov/), Biblioteca Virtual de México (https://bibliotecavirtualdemexico.cultura.gob.mx/) e a Biblioteca AECID (https://www.aecid.es/EN).

9) Sábado, a diez de septiembre de mil y quinientos y cuarenta y un años a dos horas de la noche, habiendo llovido jueves, y viernes no mucho ni mucha agua, el dicho sábado se aseguró como dicho es, y dos horas de la noche hubo muy gran tormenta de agua de lo alto del volcán que está encima de Guatemala y fue tan súbita que no hubo lugar de remediar las muertes y daños que se recrecieron; fue tanta la tormenta de la tierra, que trajo por delante del agua y piedras y árboles, que los que lo vimos quedamos admirados (Rodríguez, 1985, p. 20).

10) El día siguiente que fue viernes primero de Julio, luego que amaneció se fue nuestra armada arribando al navío enemigo con grande ánimo y contento de todos: el qual sin mostrar un punto de flaqueza, antes habiendo aderezado sus velas, y reparado los daños que el día antes había recibido, lo mejor que pudo volvió a los nuestros con tanto brío y coraje, que tocando su clarín los llamaba a barloar, començaron de nuevo a cañonear, y el a responder por el consiguiente, haciendo se unos a otros daño, aunque mucho mayor le recibía el enemigo, porque se le mató y herió mucha gente, según después se entendió (Balaguer de Salcedo, 1594, p. 30).

11) Esto estaba así dispuesto el viernes treinta de Julio a las dos de la tarde, y así como las dio el reloj, empezó en la Compañía el repique de campanas, y otros muchos instrumentos de chirimías, clarines, etc. Empezó a concurrir toda la Ciudad a las vísperas, en especial tantos religiosos graves de todas órdenes, que con leer el Coro bien capaz no cambian el. Vino luego el señor Arçobispo vestido de morado acompañado de todo el Cabildo Ecleseastico, y Clerecía (Bravo de Saravia y Sotomayor, 1610, p. 3).

12) Desde que salieron las galeras a reconocerlos, avia hecho don Otavio prevenir lo necessario para pelear, yendo bien apercebidos todos los soldados y la artilleria; y viendo la respuesta, conociendo eran navios de enemigos, los embistio de romania, y de la primera ruziada echo dos navios a fondo. No por esto desmayaron los enemigos, antes con gran animo pelearon, dando bien en que entender a los nuestros, que con animo invencible peleavan, haziado cada qual por señalarse (Lopez, 1618, p. 13).

Breve curriculum de los autores

Comerlato, Eduardo

Eduardo Comerlato é graduado em Jornalismo (PUCRS) e possui mestrado em Ciências da Comunicação (Unisinos). Atualmente, integra o grupo de pesquisa "Possibilidades de uma história conjunta do jornalismo na América Latina". Sua tese de doutorado, que está sendo desenvolvida na PUCRS, centra-se na classificação e análise dos primeiros gêneros noticiosos da história do jornalismo ibero-americano.

Hohlfeldt, Antonio

Antonio Hohlfeldt é Professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação (FAMECOS/PUCRS). Possui mestrado e doutorado em Linguística e Letras pela PUCRS. Em 2008, realizou estágio pós-doutoral na Universidade Fernando Pessoa, em Porto, Portugal. É pesquisador do CNPQ e coordena o projeto "Possibilidades de uma história conjunta do jornalismo na América Latina".